Quando você faz parte de um grupo minoritário na sociedade, isto é, vítima sistêmica de relações de opressão (LGBTQIAP+, mulheres, pessoas racializadas, etc), os processos de formação de autoestima e auto-aceitação passam por questões específicas que devem ser olhadas com sensibilidade e cuidado.
Ninguém é uma ilha
Tornamo-nos quem somos vivendo numa realidade que envolve uma sociedade, uma cultura, um tempo histórico e muitas outras coisas.
Quando essa realidade é formada por paradigmas de ódio e intolerância contra certos grupos de identidades minoritárias, a dificuldade de se reconhecer como parte desses grupos pode gerar muitos conflitos internos e externos.
Colocando os pingos nos I’s
Se eu aprendo que a minha racialidade (ser uma pessoa preta, asiática, indígena, isto é, não branca) me exige ser uma pessoa submissa; que ser LGBTQIAP+ envolve em estar sempre tendo que provar o meu valor; que nossos sentimentos de fragilidades se dão pelo fato de sermos mulheres; que se sou uma pessoa gorda serei indesejável, por que afinal iríamos aceitar nossas identidades?
E se me reconheço nelas, como sentir orgulho de mim?
Atende-se que esses exemplos dados acima não simétricos e cada um possui suas devidas especificidades.
Da-le autoconhecimento
O autoconhecimento não é um processo isolado e ensimesmado. Pelo contrário, ele passa necessariamente por nos conhecermos na realidade que vivemos.
Viver numa sociedade em que uma série de relações de opressão estão longe de sair da ordem do dia aumenta a chance de sermos alheios a nós mesmos em nossa inteireza. Com isso, não reconhecemos nosso lugar no mundo, o que a depender de sua história por ser algo que nunca foi dado. Assim, deixamos de reconhecer que a unicidade de nossas questões carregam algo maior que nós e que envolve pertencer a uma comunidade.
Para além disso, viver de modo alienado nessa sociedade pode naturalizar que o lado que comete opressões veja o outro diferente de si como uma ameaça ou alguém inferior numa relação de poder.
Assim, desenvolver autoconhecimento e autoestima passa por reconhecermos e revermos os paradigmas que reproduzimos e que dão tom às relações nas quais nos constituimos como seres sociais.
Autoestima e autoconhecimento, para além de ver tudo o que não queremos e não faz sentido, envolve também pensar e buscar construir aquelas relações contrapostas ao que é colocado como dado no mundo que vivemos.
Romper e superar o auto-ódio, em uma espaço como a psicoterapia afirmativa, passa por extrair novos significados de novas relações que geram reconhecimento, orgulho e autonomia.